Sementes de manjericão emergidas em vasos e estaquia experimental em acessos diversos
A PRODUÇÃO DAS MUDAS
Por Jean Kleber A. Mattos
As primeiras necessidades de quem
se propõe a produzir plantas medicinais são: a obtenção das plantas e a correta
identificação das espécies. A tarefa torna-se mais facilitada quando iniciamos
com uma coleção de abrangência regional, porquanto as mudas poderão ser obtidas
através de sementes, tubérculos, bulbos e outros propágulos obtidos no próprio
município.
Resta saber ONDE obter os propágulos. A resposta é simples. Toda
comunidade tem entre seus habitantes, pessoas que conhecem e cultivam em seus
jardins e quintais algumas plantas das quais fazem uso para o tratamento de
suas enfermidades. Bastaria então pedir ou comprar as mudinhas. Além disso, nas
feiras de bairro encontramos os raizeiros ou vendedores de ervas em cujo balcão
encontram-se sementes e outros propágulos de plantas utilizados na confecção de
medicamentos caseiros. Tais propágulos podem ainda ser obtidos em matas e
campos próximos quando existentes, ou ainda em viveiros, hortos florestais,
jardins botânicos, os quais sempre possuem uma secção de produção de mudas para
venda ao público. Desta forma poder-se-á dar início a uma coleção com plantas
da própria região, mesmo que de início disponhamos apenas de sua denominação
popular. Posteriormente, com a ajuda de um botânico ou estudioso, obteríamos as
denominações botânicas.
Algumas ervas são vendidas
frescas, aos molhos, com por exemplo os agriões, as artemísias, os hortelãs, os
manjericões, as cidreiras e outras. Das ervas frescas são vendidos os brotos,
as partes mais novas das plantas. São raminhos foliares ou floríferos. Nos
ramos floríferos, por exemplo o das alfavacas, podem ocorrer frutos maduros,
daí que a presença de sementes viáveis e aquênios é perfeitamente possível. Desta
forma, “batendo-se” o ramo sobre um substrato qualquer, uma sementeira por
exemplo, pode-se obter uma semeadura bem sucedida. Em poucos dias, caso se
mantenha o substrato adequadamente úmido, surgirão as plantinhas.
Alguns frutos, secos ou não, são
encontrados nas feiras e nas bancas dos raizeiros. São exemplos o fruto seco da
“cabacinha” ou buchinha do norte, que, sendo baga enquanto imaturo, é utilizado
quando seco para o tratamento da sinusite mediante inalações. No interior da trama
fibrosa destes frutos encontramos sementes viáveis. Outro exemplo é o dos
frutos da romã, em cujo interior são encontradas inúmeras sementes envolvidas
por uma substância comestível. Nas bancas de temperos ou em supermercados, são
encontrados saquinhos de plástico, de celofane ou caixas contendo “tea bags”,
de onde podemos retirar por exemplo, os aquênios (sementes) de cominho,
erva-doce, endro, camomila e coentro. São encontradas ainda as sementes, a
granel, de gergelim. Nossa experiência tem mostrado que o semeio desse material
é perfeitamente adequado para a obtenção de mudas. Eventuais insucessos podem
decorrer de falhas no manejo da sementeira ou devido ao uso de propágulos
demasiado velhos ou mal conservados.
A profundidade de semeadura deve ser de 2x vezes o maior diâmetro da semente
O leito de semeadura na
atualidade é o substrato comercial à base de casca de pinheiro e as antigas
caixas de semeadura foram substituídas por bandejas multicelulares de
poliestireno expandido.
Bandeja multicelular de poliestireno expandido
Antes, misturas diversas eram utilizadas em caixas-sementeiras.
Uma delas misturava areia de construção com composto orgânico (esterco curtido)
na base de 1:1. Também terra de jardim e composto orgânico na mesma proporção.
O semeador deve se ater ao
tamanho da semente. A profundidade de
semeadura é de 2 vezes o maior diâmetro da semente para permitir sucesso no
estabelecimento e fixação da planta. Sementes muito pequenas não devem ser enterradas
pois assim não se estabeleceriam, estando sujeitas a se degradarem no solo
antes de sua germinação.
Estacas de rizoma de Mentha piperita enraizadas em água.
A principal forma de
aproveitamento dos ramos frescos encontrados nas feiras é na forma de estacas
herbáceas. É comum transportarem-se tais estacas acondicionadas em sacos de
polietileno (saco plástico). Cabe uma advertência a quem o faz num veículo.
Deve-se colocar os sacos embaixo dos bancos para que não sejam atingidos por
réstias de sol que podem super aquecer as peças, inutilizando o material
vegetal. Chegando em casa, deve-se remover as folhas maduras deixando apenas as
duas ou três mais novas (ponteiras) e está pronta a estaca herbácea. Esta deve
ter em torno de 15 a 20 cm de comprimento e pelo menos dois nós, um dos quais
situado na extremidade basal da peça. Soterrada no leito de areia úmida até a
sua metade (10 cm), a estaca estará enraizada em duas semanas, tendo emitido
novas brotações. Ter-se-á então a muda propagada vegetativamente. Bastará então
que seja retirada da areia e implantada, na mesma profundidade anterior, em
substrato de areia mais composto orgânico (esterco velho) na proporção de 1:1.
Esta muda então crescerá e se estabelecerá. É importante lembrar que, ao se
utilizar vaso ou lata como recipiente, este deverá ter o furo de drenagem para
evitar o encharcamento e consequentemente a morte da planta.
Enfim, uma boa
estaca deve ter reservas (carboidratos), o que é garantido pelo tamanho,
substâncias de crescimento (hormônios) presentes nas gemas, e turgência.
O substrato deverá prover oxigênio, água e calor (ideal em torno de
25ºC). Daí porque o leito de areia é tão propício ao enraizamento de estacas:
ele é quente e arejado, embora não retenha fortemente a água, que deverá ser
suplementada com a frequência adequada. Quando a estaca é ponteira ou herbácea,
sua quantidade de reserva é mínima. Portanto, pelo menos duas folhas novas
devem ser deixadas, para que ocorra a fotossíntese e se produzam as reservas.
Logicamente, o leito de enraizamento deve ser instalado em local iluminado. Recentemente tem-se obtido sucesso com a miniestaquia, ou seja, propagar certas plantas com estacas de 2 cm em média, com apenas 1 nó.
Estacas herbáceas podem
facilmente ressecar e morrer, frustrando-se então seu enraizamento e sua
“pega”. Recomenda-se portanto colocar o vaso ou recipiente à meia sombra, eventualmente
cobrindo-o, ao menos parcialmente, com saco plástico transparente com um furo na parte superior para reter a
umidade na atmosfera em torno da estaca, isso desde que não incida sol direto
sobre vaso. Grandes copos de plástico transparente podem substituir o saco plástico transparente, desde que com furos na parte superior para escoar o ar quente. Tão logo novas brotações surjam, o plástico poderá ser retirado.
Não se deve expor esta pequena estufa aos raios solares diretos por risco de
superaquecimento e consequentemente a morte da estaca. Todo este aparato pode ser dispensado se a região for úmida e quente (Pará, Fortaleza, Recife...etc).
Sistemática de produção de mudas por miniestaquia com a utilização de estufins de copos de plástico. Observe-se que as miniestacas apresentam-se deitadas sobre o leito e não enterradas.
Muitas vezes o que se encontra na
feira é a planta inteira fresca ou um rebento, como são os casos da babosa, da
transagem e da ipecacuanha branca. Neste caso bastaria planta-la sob as mesmas
condições descritas acima, para lograrmos seu estabelecimento. Os demais
propágulos: tubérculos, raízes tuberosas gemíferas, rizomas, bulbos e
pseudobulbos, são por demais óbvios, bastando planta-los em solo fértil, com
umidade adequada, cobertos com fina camada de terra. Se as demais condições
ambientais (luz, temperatura ...) forem adequadas à espécie, os propágulos
brotarão e enraizarão, estabelecendo-se em curto espaço de tempo. Para o
plantio definitivo, as plantas podem ser transplantadas para um jardim
doméstico comum, cujo solo é, em geral, adequado à maioria das plantas
medicinais cultivadas.
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Referência:
MATTOS, J.K.A. Plantas medicinais. Aspectos agronômicos. Edição do Autor. 1996. 51 p.
Hortaliças frescas no setor próprio em supermercado.
Algumas peças funcionam bem como estacas herbáceas.
Algumas peças funcionam bem como estacas herbáceas.